segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Esperança que vem de Atlanta IX: segunda dose de células neurais na medula espinhal de um paciente com ELA.


Tentativa corajosa: neurocirurgiões da Universidade de Emory implantaram uma segunda dose de células neurais na medula espinhal de um paciente com ELA.

Kerry Ludlam, da Universidade de Emory

Esta semana, cirurgiões da Universidade de Emory, em Atlanta, implantaram uma segunda dose de células neurais na medula espinhal de um paciente, parte de um tratamento experimental que visa retardar a progressão da esclerose lateral amiotrófica, ou doença de Lou Gehrig. O paciente Ted Harada é a terceira pessoa a receber a segunda dose neste verão, como parte da experiência. As células são produzidas por uma empresa de Rockland, Maryland, chamada Neuralstem, a qual isola células-tronco do cérebro e da medula espinhal de fetos abortados. Com sua plataforma de terapia celular, a companhia está também visando outras doenças do sistema nervoso central, incluindo lesão medular, paraplegia espástica isquêmica, acidente vascular cerebral crônico e câncer no cérebro.

A ELA destroi gradualmente as conexões entre a medula espinhal e os neurônios motores, roubando dos pacientes toda e qualquer capacidade de locomoção. A esperança é que as células injetadas na medula espinhal propiciem o suporte, talvez pela liberação de fatores de crescimento, evitando a morte de neurônios motores. “Elas trazem os neurônios motores que estão morrendo de volta para o seu estado saudável ou os tornam mais saudáveis, retardando o processo degenerativo", diz Richard Garr, chefe-executivo da Neuralstem.

“Nós descobrimos que o procedimento é extremamente seguro”, afirma Eva Feldman, neurologista da Universidade de Michigan e pesquisadora-líder do experimento. “Em um subgrupo de pacientes, parece que a doença não está mais progredindo”, mas é muito cedo para saber se o resultado nesse pequeno número de pacientes é significativo, diz ela.

Na sua primeira cirurgia, Harada recebeu 10 injecções, cada uma contendo cerca de 100.000 células, nas laterais da sua medula espinhal inferior. Após o procedimento, ele foi capaz de mover seus membros com sinais de força e destreza que superaram suas habilidades antes do tratamento. Se há pacientes com ELA que passam pela experiência de ter breves períodos de melhoria ou estabilização, o fato é que este grau de recuperação é inédito. Nos últimos meses, Harada diz que suas habilidades têm regredido, embora a um ritmo mais lento do que antes do tratamento.

No procedimento desta semana, ao invés de injetar células na parte inferior da coluna de Harada, um cirurgião implantou-as na região superior da medula, onde estão grandes células nervosas que controlam a respiração. Como pacientes de ELA morrem de parada respiratória, os pesquisadores esperam que o tratamento proteja os neurônios motores da medula espinhal superior e previnam ou retardem a perda da função pulmonar.

As células da Neuralstem são um tanto diferente das células estaminais normais, no sentido de que elas têm um destino definido. Através da remoção de células de um feto numa fase específica da sua gestação, a companhia gera células que ainda são capazes de se dividir, transformando-se num tipo específico, tal como no caso das células da medula espinal. Essa característica das células da Neuralstem permite que a companhia teste - em placas de cultura - potenciais medicamentos para tipos específicos de células do sistema nervoso central. A empresa está atualmente em busca de medicamentos que possam proteger e nutrir os neurônios do hipocampo, uma parte do cérebro crítica para a formação e armazenamento de memórias.

Outro experimento com ELA, em curso na Clínica Mayo, está testando um tratamento que injeta células-tronco do próprio paciente em seu fluido espinhal, isoladas a partir do tecido adiposo. Até à data, dois pacientes passaram pelo procedimento. A exemplo do experimento da Universidade de Emory, o estudo da Clínica Mayo é focado na ideia de segurança. Embora tais tratamentos com células-tronco ainda sejam bastante novos e arriscados, a terrível situação dos pacientes com ELA muda a relação entre risco e benefício. “Quando você tem uma doença como a esclerose lateral amiotrófica, onde a sobrevivência média é de dois a três anos após o diagnóstico, sendo uma doença uniformemente fatal, pesquisadores e o FDA acham que é ético tentar abordagens mais desesperadas que carregam risco potencialmente maior”, diz Anthony Windebank, um neurologista que dirige o experimento de Mayo.

Se há comprovação de que o procedimento é seguro, um dos próximos passos para o campo seria modificar geneticamente as células para a produção de fatores de crescimento específicos capazes de impedir a morte do neurônio motor, diz Windebank. “Se há qualquer sinal de eficácia dessas abordagens, em seguida a tradução para a clínica deveria acontecer muito rapidamente”.
FONTE: http://www.technologyreview.com/news/428956/new-cells-for-als-patients/

 

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