terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Simposio sobre ELA: Avanços nos estudos de Neurogenética e células-tronco




Por Antonio Jorge de Melo

Ontem (30/11), conforme ocorre anualmente no Rio de Janeiro, o Instituto de Neurologia Deolindo Couto realizou mais um evento alusivo ao DIA ESTADUAL DA DOENÇA DE CHARCOT, nome como tambem é conhecida a doença ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA.                                                                               
Jean-Martin Charcot nasceu em Paris  no dia  29 de novembro de 1825, foi um um médico e cientista francês.  Por isso esta data foi sancionada na ALERJ por iniciativa da equipe do INDC e da associação de pacientes GAPE-ELA, por força de Projeto de Lei.

Em 1869, Jean Martin Charcot, o primeiro professor de neurologia na Salpêtrière, e Joffroy descreveram dois pacientes com AMP com lesões associadas na porção póstero-lateral da medula nervosa. Eles não deram o nome de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) para esta entidade, mas eles determinaram as características essenciais para o seu reconhecimento, desde então pouco modificadas. As descrições subseqüentes basearam-se em estudos em pacientes do sexo feminino, em sua maioria, uma vez que o Hospital Salpêtrière era um hospital de mulher.

Também coube a Charcot a descrição de Paralisia Bulbar Progressiva (PBP) e de Esclerose Lateral Primária (ELP), mas ele considerava estas duas entidades separadas da Esclerose Lateral Amiotrófica. Entretanto, outros médicos, também famosos, como Leyden e Gowers, insistiam que estas afecções não eram distintas uma das outras.

Para os pacientes de ELA, seus familiares e cuidadores, a expectativa em torno de novas pesquisas e novos achados para a doença se tornou em uma verdadeira obsessão. Todos nós sonhamos e desejamos que algo de diferente e inovador vindo da pesquisa científica   aconteça, e que possa modificar definitivamente o cenário que hoje vislumbramos, infelizmente nada animador.

A boa noticia é que em 2006 o cientista japonês Shinaya Yamanaka, de 50 anos, descobriu como as células maduras intactas em ratos podiam ser reprogramadas para se transformar em células-tronco imaturas. Surpreendentemente, ao introduzir apenas alguns genes, ele conseguiu reprogramar células maduras para que estas se transformassem em células-tronco pluripotentes (IPS), ou seja, células imaturas que conseguiram se transformar em todos os tipos de células do corpo. Essa incrível descoberta lhe valeu em outubro de 2012 o Prêmio Nobel de Medicina.

"Essas descobertas revolucionárias mudaram complemente a maneira como vemos o desenvolvimento e especialização celulares. Compreendemos agora que as células maduras não têm de estar confinadas para sempre ao seu estado especializado. Livros foram reescritos e novas áreas de pesquisas foram estabelecidas. Ao reprogramar as células humanas, os cientistas criaram novas oportunidades para estudar doenças e desenvolver métodos de diagnóstico e tratamento".

Durante o evento, a  Neurocientista Profª Fernanda Gubert, PhD, enfatizou a importância dos modelos animais de ratos induzidos a desenvolver ELA Familiar (modelos pré-clinicos) criados em laboratório para a finalidade de pesquisa e busca por novos alvos terapêuticos para a ELA.

O Instituto de pesquisa Osvaldo Cruz foi representado pela Geneticista Drª Tatiane Cozendey, PhD, que apresentou ao público presente dados parciais de uma pesquisa genética em pacientes com ELA Familiar que ela desenvolve em parceria com o INDC. Citou questões relacionadas aos genes SOD1, VAPB e C9, entre outras coisas.

A Neurocientista Profª Dra Rosália Otero, PhD, falou de forma bastante prática e didática sobre o potencial das células IPS, e da mudança radical que as células IPS proporcionaram nas pesquisas envolvendo neurônios, desde a sua fisiopatologia, até as pesquisas em busca de novos alvos terapêuticos para o tratamento da ELA.

Naquela oportunidade, ao final do evento, os pacientes ali presentes foram convidados a doarem 4 ml de sangue para uma nova pesquisa que o INSTITUTO DE BIOFÍSICA da UFRJ, Instituto de pesquisa Osvaldo Cruz e o INDC estão iniciando denominada  “CÉLULAS IPS COM MODELAGEM PARA ELA”.


Para maiores informações:
Projeto: CÉLULAS IPS COM MODELAGEM PARA ELA
INSTITUTO DE BIOFÍSICA/UFRJ
Drª Fernanda Gubert - fegubert@hotmail.com
Dr Pablo Domizi - pablodlepla@hotmail.com
INDC
Drª Marli Pernes - marli_pernes@yahoo.com.br



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Pacientes com ELA reagem bem a transplante de células-tronco neurais em experimento realizado na Itália

Redação... - 17 de setembro de 2015 às 20:15 (Atualizada em 17 de setembro de 2015 às 20:19)

ROMA, ITA (ANSA) - Os 18 transplantes de células-tronco neurais realizados em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) na Itália tiveram resultados positivos. Apesar de ser ainda muito cedo para falar em uma cura definitiva para a doença neurodegenerativa, a notícia representa certamente um passo à frente na luta contra ela.  O avançado experimento foi conduzido pelo professor de biologia da Universidade de Bicocca, em Milão, e diretor científico do instituto de pesquisas Casa Sollievo della Sofferenza di San Pio, Angelo Vescovi.

A primeira fase da pesquisa, feita apenas com pacientes italianos, chegou à conclusão de que otratamento é realmente seguro e que três das 18 pessoas transplantadas mostraram benefícios neuronais em relação à doença. Estes dados preliminares também dão esperança de que no futuro haverá uma terapia definitiva para a ELA.
Em entrevista exclusiva à ANSA, Vescovi disse que os resultados do experimento são "excelentes", mas que ainda "é cedo para poder falar de uma cura para a ELA" e que "são necessárias mais confirmações".
Graças aos dados positivos, o estudo passará para a Fase II, que tem como objetivo comprovar a eficácia do método para interromper a esclerose. Ela começará a ser colocada em prática a partir do ano que vem e terá uma amostra de cerca de 70 a 80 pessoas.
Toda a pesquisa foi feita de acordo com as normas internacionais da European Medicine Agency (EMA) e certificada pela Agenzia Italiana del Farmaco (Aifa). A apresentação oficial dos primeiros resultados acontecerá no palácio San Callisto, em Roma, no dia 29 deste mês. 

Nota do blog:

CÉLULAS-TRONCO NEURAIS são fonte de novas células no cérebro. Elas se dividem periodicamente em duas áreas principais: 

Ao se proliferarem, as células-tronco neurais originam outras células­-tronco neurais e precursores neurais que, ao se desenvolver, podem tornar-se tanto neurônios como células de apoio, denominadas células gliais (astrócitos e oligodendrácitos). Mas essas células-tronco neurais recém-formadas precisam afastar-se de suas progenitoras antes de se diferenciarem. 
Apenas 50%, em média, migram com sucesso, enquanto as outras perecem. No cérebro adulto, neurônios recém-formados foram encontrados no hipocampo e nos bulbos olfatários, onde o olfato é processado. Pesquisadores esperam ser capazes de induzir o cérebro a se auto-reparar estimulando as células-tronco neurais ou os precursores neurais a se dividir e se desenvolver onde forem necessários.
FONTE: http://www.guia.heu.nom.br/neuronios.htm



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Pesquisadores criticam CONEP sobre atraso da pesquisa clínica no Brasil


Por Antonio Jorge de Melo

Na última quinta-feira, em carta publicada em jornais como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, profissionais médicos e pesquisadores criticam a demora que prejudica pacientes e pesquisadores em uma CARTA ABERTA DOS CIENTISTAS BRASILEIROS A EXMA SRA PRESIDENTE DA REPÚBLICA DILMA ROUSSEFF SOBRE O ATRASO NA PESQUISA CLÍNICA NO BRASIL:
 

Em resposta, Dr Jorge Venâncio, coordenador do CONEP disse que os cientistas que assinaram o abaixo-assinado estão equivocados. A minuta do CONEP, ele diz, mantém a centralização da decisões sobre ética em pesquisa clínica, o que é importante para que exista uniformidade nas avaliações. Ele critica a maneira como se dá o andamento do projeto de lei sobre o tema. “Estão tentando aprovar esse projeto a toque de caixa, sem discussão e sem audiência pública”.

Por exemplo, ele afirma que será ruim se os pacientes não tiverem mais o direito garantido de receber o melhor tratamento disponível para as suas doenças após terem participado de estudos clínicos. Hoje, isso é obrigatório. Quanto aos atrasos, disse à Folha que pretende publicar todos os registros de chegada e saída de processos. “Em julho nossa média de resposta ficou em 45 dias, incluindo processos e pendências.”

Ele diz também que vão lançar um manual para evitar os erros mais comuns cometidos por pesquisadores e indústria.

Dr Jorge Venâncio, o primeiro a esquerda
Para quem não se lembra, no último dia 13 de julho Dr Jorge Venâncio participou da Audiência Pública no Senado sobre ELA, representando o CONEP. Naquela oportunidade perguntei ao Dr Jorge Venâncio sobre a tal pesquisa com células-tronco mesenquimais que foi aprovada em 24 horas pelo CONEP,  mas cuja informação não se tornou de domínio público para os pacientes de ELA, familiares e demais partes interessadas. (http://celulas-troncoja.blogspot.com.br/2015/07/o-milagre-das-24-horas-oucomo-aprovar.html)



Fonte:



quarta-feira, 22 de julho de 2015

O milagre das "24 horas", ou...como aprovar uma pesquisa no CONEP?

Dr Renato Maia Guimarães

Por Antonio Jorge de Melo

Durante a AP sobre ELA realizada no dia 13 de julho   no Senado, o representante do CONEP que estava a mesa, Dr Jorge Alves de A Venâncio, fez uma declaração bombástica que deixou muitos dos ali presentes no mínimo perplexos, inclusive o próprio médico pesquisador Prof Gerson Chadi. Segundo ele, O CONEP aprovou em 24 horas uma solicitação de   pesquisa com células-tronco mesenquimais em pacientes com ELA!

Essa e outras   informações sobre a pesquisa em questão  estão em uma matéria distribuída pelo próprio Dr Jorge publicada no Correio Braziliense de 19/04/2015 sob o título: "Renato Maia Guimarães e o cuidado com os outros."

Renato Maia Guimarães é   médico geriatra e   funcionário aposentado do Ministério da Saúde, e paciente de ELA. A matéria publicada no Correio Braziliense revela que "...ele conseguiu no ano passado, uma ordem judicial para participar de um grupo de pesquisas que tenta um tratamento experimental com células-tronco".

Quando lhe perguntei por telefone  sobre a citação do protocolo de Israel  na matéria:  “O estudo de Israel estava emperrado no Brasil há mais de um ano por causa da burocracia exigida no país...”, ele prontamente nos esclareceu que na verdade o protocolo é parecido, mas que trata-se de uma pesquisa independente realizada por um grupo privado de São Paulo.

Segundo revela a  matéia, Dr Renato "pediu aos amigos médicos que fortalecessem a batalha e entrassem em contato com o CONEP, para explicar a importância da aprovação do estudo...", e ele mesmo escreveu uma carta ao CONEP explicando a sua própria situação. O final dessa história já foi contado. A pesquisa foi aprovado pelo CONEP 24 h após uma reunião que ocorreu  entre ele e os membros daquela instituição. 

A matéria relata ainda que Dr Renato “...já fez duas aplicações, mas ainda não obteve resultados. Espera as novas injeções nos próximos meses.”  e enfatiza ainda  que “Hoje, 20 pacientes brasileiros se beneficiam dos testes que injetam células-tronco na medula dos doentes do neurônio motor...”

Ao perguntar ao Dr Renato, ainda por telefone,   quantos pacientes ja teriam se beneficiado dessa terapia, ele afirmou que seriam uns 3 pacientes apenas, ao contrário dos 20 revelados na matéria. Segundo ele, o grupo responsavel pela pesquisa está revendo o protocolo. Tambem nos disse que ja fez 3 injeções de células-tronco, mas que não percebeu nenhuma melhora clínica.

Por fim, fica aqui a  nossa sugestão a todos os pacientes de ELA, familiares e cuidadores, que sonham com a possibilidade de que o Brasil possa realizar pesquisas com células-tronco mesenquimais em pessoas com  ELA, como a pesquisa da equipe do Dr Gerson Chadi. Vamos enviar e-mails ao CONEP contando os nossos dramas. Quem sabe o milagre das "24 horas" se repete? 



domingo, 28 de junho de 2015

Primeiro Neurônio Humano Produzido no Brasil Veio de Célula Adulta de Pacientes da Forma Esporádica da ELA e Colocou a Mitocôndria no Centro do Processo Neurodegenerativo.





Prof. Gerson Chadi.
Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP.                                                                                             Equipe do Projeto ELA Brasil. FMUSP
 
Estes neurônios, chamados de neurônios transformados, são neurônios motores transformados que podem ser usados na análise da vulnerabilidade do neurônio motor na ELA humana. Experimentos com estes neurônios motores do doente ELA colocaram uma estrutura celular chamada MITOCÔNDRIA no centro do processo neurodegenerativo, descrevem os possíveis alvos terapêuticos da doença humana e são utilizados nos testes das possíveis drogas sem a necessidade de expor os pacientes aos riscos dos ensaios clínicos iniciais.

Todos devem se lembrar, aqueles que não, por favor consultem, que no dia 09 de setembro de 2014 anunciamos (na conta do Projeto ELA Brasil no Google+) que O Projeto ELA Brasil/ FMUSP gerou pela primeira vez no território nacional, um tipo de célula-tronco embrionária, a chamada IPSC ou célula-tronco pluripotente induzida, a partir de fibroblastos de um nervo motor ainda em funcionamento de pacientes com forma esporádica da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Agora anunciamos que pela primeira vez no território nacional, um grupo de pesquisadores gerou neurônios humanos a partir destas IPSCs, de fato, neurônios motores de pacientes com a forma esporádica da ELA.

Estas células já tinham sido obtidas desde setembro de 2014 e foram apresentadas no Congresso Brasileiro de Neurologia em novembro do ano passado como a grande ferramenta para o estudo da ELA humana e análise dos efeitos de possíveis tratamentos.


Atenção, estes neurônios não servem para ser injetados no paciente com a doença, nenhum outro aliás, pois os neurônios, como células complexas que são, não se integram no tecido nervoso e são destruídos quando lá colocados. (Ao que parece, as próprias células-tronco, por exemplo as mesenquimais, quando injetadas no sistema nervoso também não formam neurônios que possam ser funcionalmente integrados aos circuitos neurais).

Gerar neurônios motores de pacientes ELA forma esporádica foi uma grande conquista da Equipe do Projeto ELA Brasil. De lá para cá, estes neurônios motores transformados foram alvos de sofisticadas análises de vias regulatórias da morte do neurônio motor. Mais de uma centena de vias relacionadas à morte do neurônio motor na ELA foram descobertas por nós e estão sendo utilizados em estudos de alvos terapêuticos. 

Alguns fármacos já estão sendo testados, no sentido de coibir a ação destas vias relacionadas à morte dos neurônios motores. Muitas destas vias convergem para a uma FALÊNCIA  dos mecanismos de FORTALECIMENTO dos neurônios a agressões e também ao envolvimento de uma organela celular, a chamada MITOCÔNDRIA (foto anexa 2).

A mitocôndria é a usina de produção de energia na célula, entre muitas outras funções essenciais à vida da célula, que quando alterados levam à morte do neurônio. Há muito que se postula que problemas mitocondriais podem estar envolvidos na ELA, como estão em outras doenças neurodegenerativas. Entretanto, até aqui, as evidências vinham do modelo animal da ELA que não reproduz todos achados da doença humana.  Destrinchar todas as possibilidades de disfunção no neurônio motor que levam a sua morte com vistas à Cura da ELA, ainda é como procurar por uma agulha no palheiro. Pelo menos agora, estamos no palheiro certo.

Observação Nº 1:
Este trabalho foi enviado à apreciação para a publicação em uma importante revista científica internacional. Os revisores da revista demoraram 3 meses para retornar com os seus comentários, estes que foram muito positivos. Os editores solicitaram esclarecimentos e experimentos adicionais, o que é de praxe em revistas de alto impacto científico. Nossa intenção era apresentar o trabalho a toda comunidade hoje no Dia Mundial da Luta Contra a ELA, mas isto só pode ocorrer após a aprovação final. Aguardaremos.

Observação Nº2
:
Uma vez dominada a metodologia para a geração destes neurônios motores dos pacientes da forma esporádica da ELA, torna-se muito mais fácil a geração deste neurônios dos pacientes que carregam as diferentes mutações da forma familiar da doença. Isto ocorre, porque nas formas familiares, os fibroblastos não precisam ser retirados do nervo motor, mas sim de qualquer fragmento minúsculo da pele, já que a mutação se faz presente em todas as células do corpo. Aliás, já é o que estamos começando a fazer, pois somos os responsáveis pela geração de IPSCs de pacientes ELA para o Banco Nacional de IPSCs de doenças médicas, em projeto financiado pelo Ministério da Saúde.

Observação Nº3
:

Num futuro muito próximo, as ações (positivas e negativas) de quaisquer medicamentos em um indivíduo serão previamente analisadas em suas células transformadas (quaisquer que sejam, por exemplo, neurônios, células glandulares, musculares etc) a partir de IPSCs (isto caminha para ser um exame laboratorial de rotina). Só após isto, o medicamento será administrado ao doente, mesmo que o medicamento em questão funcione para a maioria dos sujeitos portadores da doença. Este procedimento chama-se MEDICINA PERSONALIZADA, um ramo novo da medicina que vem sendo estruturado nos países desenvolvidos.

sábado, 27 de junho de 2015

O que são células iPSCs e qual a importância delas na ELA?


 
 
09/09/2014
 
Por Gerson Chadi.
(Professor Titular do Departamento de Neurologia. FMUSP)
 
Estas células são também chamadas de células pluripotentes induzidas ou indicible pluripotent stem cells (iPSCs, do inglês). São células tronco do tipo pluripotentes e, por isto, capazes de formar células de outros tecidos, por exemplo, neurônios ou células da glia, que mantém a vida do neurônio. Temos estas células normalmente no indivíduo adulto? Não!!

Como conseguí-las? Após a inoculação de genes embrionários específicos em fibroblastos (células adultas), estes últimos retirados do paciente com ELA esporádica. Onde tem fibroblastos? Em qualquer parte do corpo, por isto, são células vulgares. O método é bastante sofisticado, caro e demorado. Ai você transforma uma célula vulgar em uma poderosa célula tronco pluripotente! Depois, com métodos específicos, estas iPSC podem ser transformadas nas células que você quiser, inclusive neurônio motor.

Resolveu a situação? Ainda não! Por quê? Como estas células carregam genes embrionários e podem ser transformadas em quaisquer outros tipos celulares, temos que ter a certeza de que quando tratarmos um paciente com estas células, elas não vão formar células indesejáveis pelo corpo, como o que ocorre no câncer. Isto é o que está em estudo e sendo resolvido neste momento, principalmente no Japão. Aliás, foi com o Prêmio Nobel japonês, o Prof. Yamanaka, que o Dr Chrystian J Alves, aprendeu os fundamentos da técnica. Após isto, o Dr. Chrystian, aqui no Brasil, no nosso laboratório na FMUSP, modificou a tecnologia para a produção delas a partir dos pacientes ELA esporádica.

Para que servem então? Todos já ouviram falar nas dezenas de medicações que funcionaram no modelo animal ELA e não surtiram bom efeito no paciente ELA. Dizemos: o medicamento NÃO teve uma boa translação clínica!! O exemplo mais triste é o próprio rilusol. Isto acontece porque os modelos animais de doenças não são completos por não conseguirem apresentar todos os detalhamentos da doença humana.

Então, o uso de células humanas, no caso, os neurônios motores transformados a partir da célula vulgar do paciente adulto com ELA, representa uma grande oportunidade para os testes dos efeitos das drogas. Por quê? Porque os testes preliminares nos neurônios transformados evitarão que os pacientes fiquem expostos aos testes cujos efeitos não sabemos ao certo. Se uma droga for positiva para uma doença, então ela vai ter mostrado, ANTES, efeitos na sobrevida dos neurônios motores humanos no laboratório.

Por que a importância delas serem obtidas a partir do paciente ELA esporádica? Porque este não carrega mutação que é específica a apenas um tipo de ELA. Como existem muitos genes diferentes que podem estar mutados na ELA, em geral, uma mutação equivale a uma fração mínima dos pacientes ELA. De qualquer modo, uma vez tendo sido geradas estas células do paciente forma esporádica da ELA, então, fica fácil obtê-las dos pacientes portadores da ELA familiar.

Uma última coisa importantíssima que os pesquisadores não acostumados com medicina translacional se esquecem. Os efeitos de drogas em uma pessoa em particular são também dependentes de aspectos INDIVIDUAIS desta pessoa, que são muitos!! Muitas vezes uma droga que funciona em uma doença, por vezes não age de modo pleno e uniforme em todos os indivíduos portadores. No futuro, o médico, espero tenha ele um arsenal medicamentoso a sua disposição, poderá testar nos neurônios transformados a partir das iPSCs de um doente ELA qual o medicamento expressa maior eficácia para ele. Tratamento personalizado!
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.FONTE: https://plus.google.com/+GersonChadiProjetoELABRASIL/posts/QV1e1yqneQw


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Novas perspectivas sobre Células-Tronco na ELA (Células-Tronco pluripotenciais)



Profª Rosália Mendez-Otero 


Drª Rosália Mendez apresentou uma pesquisa realizada no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho – UFRJ, onde foram descritos estudos em ratos que foram submetidos a injeções com   células-tronco adultas derivadas da medula óssea dos mesmos.

Segundo a pesquisadora relatou, quando as células-tronco foram injetadas na fase anterior a indução da doença no modelo animal, observou-se através de experimentos comparativos uma pequena melhora após a instalação da mesma. Entretanto, quando essas mesmas células-tronco foram injetadas após a indução da ELA no modelo animal, não se observou nenhuma melhora clínica nesses modelos. “Esses estudos pré-clínicos em ELA tem demonstrado serem muito pobres”, reconheceu a pesquisadora.

No entanto, ela destacou que as células IPS representam uma forte e promissora esperança para novas pesquisas na busca pelo conhecimento da etiologia e da fisiopatologia da ELA, o que permitirá que novas terapias medicamentosas possam ser estudadas, pelo fato dessas células poderem ser testadas em todos os tipos de mutação genéticas conhecidas na doença.

A palestrante apresentou as pesquisas clínicas (em pacientes) com células-tronco adultas que estão em curso no mundo, entre elas a da Brianstorm e da Neuralsten. Tambem citou a pesquisa em curso desenvolvida pela equipe do Dr Gerson Chadi , da FMUSP, onde um grupo de pacientes com ELA receberão injeções de células-tronco mesenquimais autólogas (do próprio paciente), segundo o protocolo da Brianstorm. 

Fonte:
http://falandosobreela.blogspot.com.br/2015/05/mesa-redonda-esclerose-lateral.html

sábado, 25 de abril de 2015

Brianstorm apresenta os resultados de seu "Phase 2 Clinical ALS Trial" na AAN/2015


o último dia 21 de abril a BrainStorm Celular Therapeutics Inc.  anunciou em seu site que “...os resultados do seu estudo Fase 2-A da NurOwn® na esclerose lateral amiotrófica (ELA) e análises adicionais serão apresentados na reunião anual  da Academia Americana de Neurologia, que acontecerá em Washington DC de 18 de Abril a 25, de 2015".

Segundo o site,  Tony Fiorino,  CEO da  BrainStorm , MD, PhD, comentou que "estamos muito contentes de ter a oportunidade de compartilhar nossos resultados neste prestigiado local, e estamos ansiosos para discutir estes resultados com a comunidade médica."

Segundo revelou ainda a matéria no site, a BrainStorm completou dois ensaios clínicos dessas células-tronco mesenquimais secretoras de fatores neurotróficos em Israel, e atualmente está iniciando um novo estudo duplo-cego, randomizado e placebo-controlado Fase II em três centros nos Estados Unidos.

O tema da apresentação na AAN/2015 foi:

"Transplante Autólogo de células-tronco mesenquimais secretando fatores neurotróficos (Nurown) em ELA: Resultados de um ensaio clínico  Fase II".

O evento ocorreu  na última  terça-feira,  dia 21 de abril de 2015, no Walter E. Washington Convention Center, Washington, DC.


Fonte: http://www.brainstorm-cell.com/index.php/news-events/343-april-21-2015

domingo, 22 de março de 2015

Terapia Gênica ou Engenharia Gênica Terapêutica e o futuro da Medicina Regenerativa.





A Terapia Gênica ou Engenharia Gênica Terapêutica é o futuro da Medicina Regenerativa. E isto não se refere à genética ou apenas às doenças genéticas. Isto tem a ver com Engenharia Gênica que é um ramo específico da Biologia Molecular que pode ser aplicada à Medicina Regenerativa. De fato, em todas as especialidades médicas. Quem lida com isto atualmente na área médica é a Medicina Translacional.

O que é a Terapia Gênica ou Engenharia Gênica Terapêutica? 

A terapia gênica é um conjunto de técnicas moleculares que substituem ou concertam um gene defeituoso ou, ainda, capazes de modificar o funcionamento de genes dentro das células e tecidos do corpo do indivíduo para o tratamento de doenças.

Utiliza-se desde vírus que servem como transportador de um fragmento de DNA, o chamado de Gene Terapêutico, até as sequencias especiais de RNA, chamadas de Oligonucleotídeos Terapêuticos.

Em ambos os casos, as moléculas terapêuticas deverão chegar até as “células doentes” e agir diretamente no DNA (material genético) ou na sua linha de produção. Deve ficar claro que existem vários outros métodos de engenharia gênica em desenvolvimento e que despontam como ferramentas potencialmente importantes para as correções de defeitos genéticos, inclusive em embriões. Estes não serão tratados aqui.

Gene e Nucleotídeo Terapêuticos têm as seguintes funções terapêuticas:

1- Nas doenças hereditárias ou genéticas, que são aquelas em que os doentes possuem o seu DNA com mutação em genes que resultam em problemas de saúde.
Neste caso, o gene terapêutico pode remover o gene causador da doença, substituir o gene multado ou regular o grau de atividade ou inatividade do gene causador da doença.
Os Oligonucleotídeos Terapêuticos também são utilizados experimentalmente em algumas doenças genéticas.

2- Nas doenças que não são genético-hereditárias e não são relacionadas a mutações causadoras da patologia. Estas formam a grande maioria das doenças médicas. Neste caso, a doença atinge um grupo mais restrito de células e tecidos, mas que, não por isto, este grupo de doença é menos grave ou menos mortal.

Neste caso, o gene terapêutico é levado até estas células e tecidos doentes e lá ele vai realizar as suas funções. Que funções são estas? As funções dependerão do tipo de célula-alvo e do gene terapêutico, e a resposta final vai depender do tipo de função que ambos, célula e gene, desempenham no organismo. O mesmo pode ser dito para os Oligonucleotídeos Terapêuticos. Assim, as respostas podem ser as mais diversas, o que amplia enormemente os benefícios das Terapias de Engenharia Gênica, por exemplo:

a- nas células inflamatórias. As Terapias de Engenharia Gênicas podem modificar a inflamação que acompanha a maioria dos processos neurodegenerativos graves, inclusive no sistema nervoso.

b- nas células do sistema imunológico. Podem melhorar o sistema imunológico e de defesa do organismo, promovendo a proteção celular contra agressões e a morte. Inclusive a proteção dos neurônios.

c- diretamente nas células de todos os sistemas do organismo. Aqui, chama a atenção a célula nobre, o neurônio, que não é substituído após a agressão e morte. Vou dar um exemplo prático. Quando o neurônio é agredido, ele morre porque seus genes de “morte” celular que estão inativos (dormentes) são subitamente ativados (acordados). Noventa por cento das mortes neuronais ocorrem desta maneira. Isto mesmo!!!

 As células são dotadas de genes de morte que quando ativados direcionam as células para a morte. É mais ou menos assim. Quando uma célula é agredida ou fica doente, o organismo faz de tudo para mantê-la viva. Depois de algum tempo, quando não obtém sucesso, então, ele inverte a situação e passa a forçar a morte da célula. É uma maneira de proteger as células vizinhas daquela que está com o problema.

Estes genes de morte celular podem ser silenciados ou inativados pela Engenharia Gênica Terapêutica. O processo de morte neuronal pode ser então abortado. Levar genes terapêuticos até os neurônios agredidos e impedir que eles morram é o futuro promissor para a cura das doenças neurodegenerativas nas células-tronco. Neste caso, eu faço uma pergunta para o melhor entendimento dos leitores:

O que fazer no caso daquelas células que já morreram e o doente carrega deficiências consideráveis?

Neste caso, de novo, o sistema nervoso e o neurônio entram em foco, porque os efeitos das doenças neurodegenerativas são altamente debilitantes, causam disfunções e desabilidades graves, são de difícil tratamento e, em geral, levam o indivíduo à morte mais cedo ou mais tarde.

Os neurônios são células que não se dividem,  ou seja, o organismo não é capaz de repor os neurônios mortos. Por mais que o processo de reabilitação seja importante para a manutenção e ganho de função, nos casos das doenças neurodegenerativas progressivas, os efeitos benéficos da neurorreabilitação são limitados pelo tempo de evolução da patologia e pela gravidade da lesão.

A nova tecnologia das células-tronco permite a geração de novos neurônios a partir de células indiferenciadas. Apesar do grande entusiasmo inicial dos pesquisadores, o método ainda é limitado por muitos problemas a serem resolvidos.,por exemplo: a transformação de neurônios a partir de células-tronco no laboratório e posterior injeção no sistema nervoso lesado não funciona. Isto ocorre porque os neurônios morrem poucos dias após o tratamento. Isto não é culpa da rejeição imunológica, senão a terapia imunossupressora já teria resolvido isto.

Os neurônios “naturais” formados quando éramos ainda embriões e que carregamos ao nascimento serão aqueles que vão permanecer conosco até a nossa morte. Ou seja, é muito tempo em geral. A regra é simples: neurônios são mantidos vivos porque eles carregam genes de “sobrevivência”; por outro lado são mortos, quando genes de “morte” são ativados. Nos neurônios “não naturais”, ou seja, aqueles desenvolvidos a partir das células tronco, este sistema de regulação de genes de sobrevida e morte não funciona muito bem.

Por outro lado, apesar de igualmente frustrante, as células-tronco quando injetadas no sistema nervoso podem formam neurônios, mas muitos destes neurônios morrem antes que um benefício maior ou duradouro possa advir deste tratamento.

Ensaios clínicos atuais tentam mostrar os benefícios dos tratamentos com diversos tipos de células tronco em desordens do sistema nervoso. Benefícios, porém, ainda limitados são observados em alguns casos. Como se explica isto?

Na verdade, as células-tronco têm a capacidade de secretar diversas substâncias que modulam o sistema de diversas formas, promovendo ações restaurativas aparentemente interessantes. Por exemplo, as células-tronco secretam substâncias capazes de fortalecer os neurônios que estão morrendo, aumentando, assim, a sua sobrevida.

 Substâncias secretadas são capazes de melhoram o funcionamento dos neurônios sobreviventes. Ainda, substâncias liberadas pelas células tronco são capazes de induzir o processo de reparo e cicatrização das áreas comprometidas.Tudo isso pode levar benefícios ao paciente mas não resolvem o problema.

Ainda, as células-tronco podem receber genes específicos que aumentem a capacidade daquelas células produzirem e secretarem substâncias benéficas ao processo restaurativo. É a chamada de terapia ex vivo, ou seja, as células-tronco são retiradas do corpo, vão para o laboratório, recebem genes de interesse, as células passam a ser secretoras de moléculas que atuam especificamente no problema e depois são reinjetadas no indivíduo doente. Estas abordagens ex vivo já foram utilizadas com sucesso em algumas situações médicas, principalmente na área das imunodeficiências primárias. Entretanto, no que diz respeito às desordens neurodegenerativas, a metodologia ainda está sendo testada nos animais de laboratório.

A descoberta recente de uma molécula de RNA chamada Pncky e que a extirpação desta molécula do interior das células tronco precursoras de neurônios levam a formação de número 4 vezes maior de neurônios trouxe grande entusiasmo aos cientistas envolvidos com terapia celular. Particularmente, no caso das desordens neurodegenerativas. 

Deve ser ressaltado, que a utilização de vírus como carregador de genes e a extirpação de genes por manipulação do DNA ainda podem oferecer alguns riscos e imprevisibilidades. Na medicina, os riscos são sempre confrontados aos benefícios antes das tomadas de decisões.

Estes cuidados têm feito a Engenharia Gênica Terapêutica progredir no desenvolvimento metodológico. Atualmente os Nucleotídeos Terapêuticos mostram-se mais seguros e a metodologia entrou com força nos testes em doenças neurodegenerativas.

No caso da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), os Nucleotídeos Terapêuticos já são testados clinicamente. Por exemplo:  os Oligonucleotídeos específicos com sequencias contrárias (antisense) àquelas do DNA dos genes da SOD1 e Hexanucleotídeo do Cromossomo 9 (C9ORF72) já estão em Ensaios Clínicos de Fase 2. Lembrando que as mutações correspondentes à expansão do Hexanucleotídeo do Cromossomo 9 e do gene da SOD1 representam 40% e 20%, respectivamente, das formas familiares da ELA.

Certamente, num futuro próximo, a combinação da Engenharia Gênica Terapêutica  e da Terapia Celular poderá ampliar cada uma das ações descritas acima e, assim, oferecer resultados mais efetivos à Medicina Regenerativa.

Professor Gerson Chadi.
Médico e Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP.
Coordena o Projeto ELA Brasil. A Busca Por Soluções da FMUSP. 



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Parlamentares recebem proposta de Cientista para criação de Centro de Terapia Celular no HC/FMUSP


Por Antonio Jorge de Melo

Quem acompanha o trabalho que o ilustre Prof. Dr. Gerson Chadi e sua instituição vem realizando a 30 anos, sabe que nos últimos meses ele e o HC/FMUSP estão engajadas em algumas ações específicas que vem de encontro as expectativas  dos pacientes de ELA e de outras doenças neuromusculares e degenerativas:

1-Estudo Fase II com CT adultas em ELA em parceria com a Brianstorm, que já foi autorizado pela ANVISA

2-Estudo BIOMARCADORES em pacientes com ELA.

3-Compra de equipamentos para capacitar um complexo de salas limpas nas dependências do HC/FMUSP para realização de terapia celular em pesquisa FASE III e Terapia Celular em larga escala.

O Ministério da Saúde já aprovou a liberação de 5 milhões de reais para a pesquisa com células-tronco. Mas os itens 2 e 3 precisam de uma verba específica, conforme consta no  plano de ação  de ambos Projetos.

Diante do desafio de se alcançar os valores necessários para alavancar esses 2 Projetos,  Dr Gerson esteve reunido no dia 24/02 em Brasília com o Senador Romário, a Senadora Ana Amélia, o Senador Jose Serra e com a Deputada Federal Mara Gabrilli, juntamente com membros do Movela representando os pacientes.

Naquela oportunidade  ele fez  uma  apresentação sobre esses Projetos, sua viabilidade de execução, seus custos e sua enorme capacidade de formar profissionais de todo o país que estarão qualificados para fazer terapia celular em seus locais de origem, bem como a possibilidade de se alcançar recursos de Instituições internacionais para alavancar novas pesquisas.

Trata-se de  uma iniciativa inédita e grandiosa  para que pacientes com doenças neuromusculares como a ELA  possam ter acesso aos tratamentos  experimentais com células-tronco e tambem a novas terapias medicamentosas.

                                
                                                      Dr Gerson com  Sen Romário e Sen Ana Amélia



                                           

                                          





                                                                          

          

                                                     Dr Gerson com  Sen Romário e Sen José Serra





                                                          Dr Gerson com a  Dep Federal Mara Gabrilli