Prof. Gerson Chadi.
Professor Titular do Departamento de Neurologia
da FMUSP.
Equipe do Projeto ELA Brasil. FMUSP
Estes neurônios, chamados de neurônios
transformados, são neurônios motores transformados que podem ser usados na
análise da vulnerabilidade do neurônio motor na ELA humana. Experimentos com
estes neurônios motores do doente ELA colocaram uma estrutura celular chamada
MITOCÔNDRIA no centro do processo neurodegenerativo, descrevem os possíveis
alvos terapêuticos da doença humana e são utilizados nos testes das possíveis
drogas sem a necessidade de expor os pacientes aos riscos dos ensaios clínicos
iniciais.
Todos devem se lembrar, aqueles que não, por favor consultem, que no dia 09 de setembro de 2014 anunciamos (na conta do Projeto ELA Brasil no Google+) que O Projeto ELA Brasil/ FMUSP gerou pela primeira vez no território nacional, um tipo de célula-tronco embrionária, a chamada IPSC ou célula-tronco pluripotente induzida, a partir de fibroblastos de um nervo motor ainda em funcionamento de pacientes com forma esporádica da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
Agora anunciamos que pela primeira vez no território nacional, um grupo de pesquisadores gerou neurônios humanos a partir destas IPSCs, de fato, neurônios motores de pacientes com a forma esporádica da ELA.
Estas células já tinham sido obtidas
desde setembro de 2014 e foram apresentadas no Congresso Brasileiro de
Neurologia em novembro do ano passado como a grande ferramenta para o estudo da
ELA humana e análise dos efeitos de possíveis tratamentos.
Atenção, estes neurônios não servem para
ser injetados no paciente com a doença, nenhum outro aliás, pois os neurônios,
como células complexas que são, não se integram no tecido nervoso e são
destruídos quando lá colocados. (Ao que parece, as próprias células-tronco, por
exemplo as mesenquimais, quando injetadas no sistema nervoso também não formam
neurônios que possam ser funcionalmente integrados aos circuitos neurais).
Gerar neurônios motores de pacientes ELA forma esporádica foi uma grande conquista da Equipe do Projeto ELA Brasil. De lá para cá, estes neurônios motores transformados foram alvos de sofisticadas análises de vias regulatórias da morte do neurônio motor. Mais de uma centena de vias relacionadas à morte do neurônio motor na ELA foram descobertas por nós e estão sendo utilizados em estudos de alvos terapêuticos.
Alguns fármacos já estão sendo testados, no sentido de coibir a ação destas vias relacionadas à morte dos neurônios motores. Muitas destas vias convergem para a uma FALÊNCIA dos mecanismos de FORTALECIMENTO dos neurônios a agressões e também ao envolvimento de uma organela celular, a chamada MITOCÔNDRIA (foto anexa 2).
A mitocôndria é a usina de produção de
energia na célula, entre muitas outras funções essenciais à vida da célula, que
quando alterados levam à morte do neurônio. Há
muito que se postula que problemas mitocondriais podem estar envolvidos na ELA,
como estão em outras doenças neurodegenerativas. Entretanto, até aqui, as
evidências vinham do modelo animal da ELA que não reproduz todos achados da
doença humana. Destrinchar
todas as possibilidades de disfunção no neurônio motor que levam a sua morte
com vistas à Cura da ELA, ainda é como procurar por uma agulha no palheiro.
Pelo menos agora, estamos no palheiro certo.
Observação Nº 1:
Este trabalho foi enviado à apreciação
para a publicação em uma importante revista científica internacional. Os
revisores da revista demoraram 3 meses para retornar com os seus comentários,
estes que foram muito positivos. Os editores solicitaram esclarecimentos e
experimentos adicionais, o que é de praxe em revistas de alto impacto
científico. Nossa intenção
era apresentar o trabalho a toda comunidade hoje no Dia Mundial da Luta Contra
a ELA, mas isto só pode ocorrer após a aprovação final. Aguardaremos.
Observação Nº2:
Observação Nº2:
Uma vez dominada a metodologia para a
geração destes neurônios motores dos pacientes da forma esporádica da ELA,
torna-se muito mais fácil a geração deste neurônios dos pacientes que carregam
as diferentes mutações da forma familiar da doença. Isto ocorre, porque nas
formas familiares, os fibroblastos não precisam ser retirados do nervo motor,
mas sim de qualquer fragmento minúsculo da pele, já que a mutação se faz
presente em todas as células do corpo. Aliás, já é o que estamos começando a fazer,
pois somos os responsáveis pela geração de IPSCs de pacientes ELA para o Banco
Nacional de IPSCs de doenças médicas, em projeto financiado pelo Ministério da
Saúde.
Observação Nº3:
Num futuro muito próximo, as ações
(positivas e negativas) de quaisquer medicamentos em um indivíduo serão
previamente analisadas em suas células transformadas (quaisquer que sejam, por
exemplo, neurônios, células glandulares, musculares etc) a partir de IPSCs
(isto caminha para ser um exame laboratorial de rotina). Só após isto, o
medicamento será administrado ao doente, mesmo que o medicamento em questão
funcione para a maioria dos sujeitos portadores da doença. Este procedimento
chama-se MEDICINA PERSONALIZADA, um ramo novo da medicina que vem sendo
estruturado nos países desenvolvidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário