09/09/2014
Por Gerson Chadi.
(Professor Titular do Departamento de Neurologia. FMUSP)
Estas células são também chamadas de células pluripotentes induzidas ou indicible pluripotent stem cells (iPSCs, do inglês). São células tronco do tipo pluripotentes e, por isto, capazes de formar células de outros tecidos, por exemplo, neurônios ou células da glia, que mantém a vida do neurônio. Temos estas células normalmente no indivíduo adulto? Não!!
Como conseguí-las? Após a inoculação de genes embrionários específicos em fibroblastos (células adultas), estes últimos retirados do paciente com ELA esporádica. Onde tem fibroblastos? Em qualquer parte do corpo, por isto, são células vulgares. O método é bastante sofisticado, caro e demorado. Ai você transforma uma célula vulgar em uma poderosa célula tronco pluripotente! Depois, com métodos específicos, estas iPSC podem ser transformadas nas células que você quiser, inclusive neurônio motor.
Resolveu a situação? Ainda não! Por quê? Como estas células carregam genes embrionários e podem ser transformadas em quaisquer outros tipos celulares, temos que ter a certeza de que quando tratarmos um paciente com estas células, elas não vão formar células indesejáveis pelo corpo, como o que ocorre no câncer. Isto é o que está em estudo e sendo resolvido neste momento, principalmente no Japão. Aliás, foi com o Prêmio Nobel japonês, o Prof. Yamanaka, que o Dr Chrystian J Alves, aprendeu os fundamentos da técnica. Após isto, o Dr. Chrystian, aqui no Brasil, no nosso laboratório na FMUSP, modificou a tecnologia para a produção delas a partir dos pacientes ELA esporádica.
Para que servem então? Todos já ouviram falar nas dezenas de medicações que funcionaram no modelo animal ELA e não surtiram bom efeito no paciente ELA. Dizemos: o medicamento NÃO teve uma boa translação clínica!! O exemplo mais triste é o próprio rilusol. Isto acontece porque os modelos animais de doenças não são completos por não conseguirem apresentar todos os detalhamentos da doença humana.
Então, o uso de células humanas, no caso, os neurônios motores transformados a partir da célula vulgar do paciente adulto com ELA, representa uma grande oportunidade para os testes dos efeitos das drogas. Por quê? Porque os testes preliminares nos neurônios transformados evitarão que os pacientes fiquem expostos aos testes cujos efeitos não sabemos ao certo. Se uma droga for positiva para uma doença, então ela vai ter mostrado, ANTES, efeitos na sobrevida dos neurônios motores humanos no laboratório.
Por que a importância delas serem obtidas a partir do paciente ELA esporádica? Porque este não carrega mutação que é específica a apenas um tipo de ELA. Como existem muitos genes diferentes que podem estar mutados na ELA, em geral, uma mutação equivale a uma fração mínima dos pacientes ELA. De qualquer modo, uma vez tendo sido geradas estas células do paciente forma esporádica da ELA, então, fica fácil obtê-las dos pacientes portadores da ELA familiar.
Uma última coisa importantíssima que os pesquisadores não acostumados com medicina translacional se esquecem. Os efeitos de drogas em uma pessoa em particular são também dependentes de aspectos INDIVIDUAIS desta pessoa, que são muitos!! Muitas vezes uma droga que funciona em uma doença, por vezes não age de modo pleno e uniforme em todos os indivíduos portadores. No futuro, o médico, espero tenha ele um arsenal medicamentoso a sua disposição, poderá testar nos neurônios transformados a partir das iPSCs de um doente ELA qual o medicamento expressa maior eficácia para ele. Tratamento personalizado!
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.FONTE: https://plus.google.com/+GersonChadiProjetoELABRASIL/posts/QV1e1yqneQw
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