"O IPG agradece a sua participação no Diálogo
Público que foi realizado no dia 04/10/2012 durante o Congresso de Células
Tronco. Acreditamos que alcançamos o nosso objetivo que é sempre trazer
informação de qualidade a quem é envolvido direta ou indiretamente com a ELA. Em
anexo, segue um resumo da Dr Mayana.
Esperamos que mantenham contato e estamos à
disposição para o que necessitarem."Gestora de projetos
"Toda vez que sai uma noticia sobre um novo tratamento para esclerose lateral amiotrófica (ELA), a doença que afeta o famoso cientista britânico Stephens Hawkins há um alvoroço entre os pacientes e seus familiares. Qualquer informação acende uma nova esperança. E não é à toa. Quem convive com a ELA sabe da importância dessas pesquisas. Inúmeros cientistas ao redor do mundo trabalham com esse objetivo: achar um tratamento para essa doença tão cruel. Mas sempre há os aproveitadores ou aqueles que querem fazer sensacionalismo. Como separar o joio do trigo? Foi com esse objetivo que resolvemos promover um encontro – apoiado pelo Instituto Paulo Gontijo entre dois importantes pesquisadores internacionais de ELA e os pacientes.
Essa interação foi programada após a exposição científica que coordenei
durante a reunião da ISSCR- International society of stem cell research em São
Paulo. Os dois cientistas convidados, Dr. Kevin Eggan da Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos e o Dr. Dimitrius Karussis, de Jerusalem ( Hadassah
Medical Organization) em Israel, aceitaram conversar com os pacientes após as
suas exposições científicas. Nada melhor do que ouvir diretamente da fonte... E
cá entre nós, essa linguagem técnica pode ser bem “chata” para quem não é da
área.
Quem são os cientistas e o que
estão pesquisando?
O Dr. Eggan, um jovem pesquisador
brilhante trabalha em pesquisas básicas. Ele está reprogramando células tronco
retiradas da pele (fibroblastos) de pacientes com ELA de modo a obter, em
laboratório, neurônios dessas pessoas. É uma linha de pesquisas que também
estamos realizando no Centro do genoma e que foi tese de doutorado do hoje Dr.
Miguel Mitne-Neto (http://veja.abril.com.br/blog/genetica/sem-categoria/celulas-tronco-abrem-novos-caminhos-na-esclerose-lateral-amiotrofica/) que felizmente continua sendo um dos nossos grandes colaboradores. Apresentei esses nossos resultados durante o
Congresso. Na prática, as células passam a ser nossos pacientes, o que nos
permite fazer inúmeros experimentos para descobrir o que há de errado, o que
está matando os neurônios motores e como corrigir o defeito. Uma questão que
ainda intriga a todos é como explicar que mutações em diferentes genes (já
foram descobertos 16 genes que causam ELA) podem ter o mesmo efeito: causar a
morte dos neurônios motores. Mas o que mais nos interessa é tentar descobrir
por que pessoas com a mesma mutação podem ter quadros clínicos muito
diferentes. O que protege algumas pessoas dos defeitos deletérios da mutação?
Quais são os genes protetores? O que fazem? Se descobrirmos, poderemos abrir
novos caminhos muito importantes na busca de novos tratamentos.
O Dr. Karussis, médico neurologista, é
grego, mas vive em Israel há mais de 20 anos. Há 6 meses ele iniciou os
primeiros experimentos clínicos com pacientes. Segundo ele, foram dois anos
para ter o protocolo aprovado pelas agências reguladoras de Israel. Aprovar
novos experimentos clínicos é um processo difícil e demorado em todos os países
que se preocupam em minimizar todos os possíveis riscos de cada experiência
clínica. Embora muitos se ofereçam para isso, repito: paciente não é
cobaia. Nessa primeira fase, o que se
testa é a segurança do procedimento em um grupo pequeno de pacientes, antes de
se iniciar a fase II ou III em um grupo maior com grupos controles pareados. O
Dr. Karussis está injetando células-tronco retiradas do próprio paciente
(medula óssea que é o tutano do osso) – que chamamos de transplante autólogo.
As células são retiradas e cultivadas com fatores especiais que, segundo o Dr.
Karussis, aumentam o seu potencial neurotrófico, visando à proteção dos
neurônios motores. A vantagem de se usar as células do próprio paciente é
assegurar-se que não haverá rejeição. A desvantagem é que em alguns casos são
pacientes já idosos. Será que suas células poderão trazer os mesmos benefícios
que células jovens? Esta é uma das minhas questões.
Como está sendo feita a pesquisa
e o que está sendo observado?
Por enquanto são 12 pacientes que estão sendo seguidos há 6 meses. Esses
pacientes foram divididos em dois grupos: no primeiro grupo, as injeções são intratecais
(são injetadas na região lombar, no líquido espinhal); no segundo grupo são
injeções musculares, em um braço e uma perna.
Os resultados preliminares ainda não permitem nenhuma conclusão.
Aparentemente o braço e a perna injetados parecem ter mais músculo que o membro
colateral que não foi injetado, mas isso ainda precisa ser confirmado. Alguns
pacientes mostraram melhora e depois estabilizaram. Em outros não houve efeito, diz o Prof.
Karussis. Em resumo nessa fase, o objetivo é realmente testar a segurança. Ela
ainda não permite avaliar o efeito clínico.
A história do rabino
Um dos pacientes submetidos ao tratamento é um rabino de 75 anos.
Aparentemente, esse senhor que falava com muita dificuldade e não conseguia
andar, começou a andar e a falar com mais facilidade após as injeções com
células-tronco. A notícia se espalhou como fogo. Todos queriam ir para Israel e
submeter-se ao tratamento do Prof. Karussis. O que há de verdade nisso,
perguntamos ao pesquisador. “É verdade, esse senhor tem um diagnóstico de
miastenia e sinais de ELA”, respondeu.
Ele teria duas doenças. Portanto, ninguém sabe se as células-tronco
tiveram efeito nos sintomas da miastenia e não da ELA, diz o cientista. Recentemente ele apresentou uma piora e
provavelmente receberá uma nova dose de células-tronco, complementou.
Qual é o próximo passo?
As grandes perguntas agora são: que dose injetar? Qual é o melhor local
para injetar? As injeções devem ser únicas ou repetidas? Esperamos que essa primeira fase, realizada
em Israel, ajude a responder essas questões . Com isso poderemos pular etapas e
acelerar o processo quando iniciarmos o protocolo no Brasil. A boa noticia é
que os dois pesquisadores querem colaborar conosco. Nesse sentido, o encontro
dos cientistas com os pacientes certamente teve um papel muito positivo e
sensibilizou esses pesquisadores. Só posso agradecer a Silvia Tortorella do IPG
por ter promovido e apoiado essa reunião. Segundo ela, “a informação e
conhecimento sobre a doença são de importância suprema, para que se possa incentivar
mais pesquisas no Brasil, mais tratamento e mais qualidade de vida para esses
pacientes”. Entretanto, é fundamental
que os ensaios terapêuticos sejam feitos com todo o rigor científico. Como
lembrou muito bem o Dr. Miguel Mitne-Neto que também participou do encontro,
entendemos que para cada paciente o tempo é crucial. Entretanto, não podemos esquecer que os resultados dessas pesquisas, se
bem conduzidas poderão beneficiar milhares de pacientes hoje e amanhã."
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