Professor Gerson Chadi.
21/06/2014
O Projeto Neuralstem para ELA (Neuralstem Cell Therapy for ALS) é de fato interessante. A sua utilização requer, entretanto, cuidados e análises especiais já em andamento nas esferas científica (aplicabilidade deste tipo de células em ELA), clínica (restrições, resultados prováveis e efeitos colaterais), cirúrgica (complexidade das injeções feitas diretamente no H cinzento da medula espinal), legal (legislação brasileira) e financeira (investimento expressivo necessário aos equipamentos cirúrgicos, manipulação das células para uso clínico e acompanhamento logístico dos pacientes tratados).
As chamadas NSI-566 (células tronco da medula espinal humanas ) são clones gerados a partir de células retiradas da medula espinal de embriões humanos de 8 semanas. O processo todo é patenteado pela empresa.
O Neuralstem desenvolve em ELA fundamentalmente 2 estudos Fase II nos EUA (aprovados pelo FDA), com resultados já apresentados em revistas científicas de Neurologia, e um estudo Fase I/II no México.
O projeto ELA desenvolvido pela Faculdade de Medicina da USP, iniciado em 2010, é um projeto TRANSLACIONAL (Neurologia Translacional), pioneiro e único no Brasil. Um projeto desta natureza visa o desenvolvimento de alvos terapêuticos direcionados aos mecanismos específicos da doença descobertos pelo projeto.
Neuralstem fala que as suas células produzem fatores neurotróficos, mas não os detalha. A FMUSP, num trabalho único no mundo, começa a saber quais são os fatores específicos que faltam aos neurônios motores dos pacientes na fase inicial da doença. Isto certamente abrirá portas para uma parceria tecnológica com empresas estrangeiras que geram clones de células tronco como é o caso do Neuralstem, ou de outras origens como as mesenquimais.
A utilização de células tronco para ELA é uma possibilidade real a ser tentada, principalmente pelo fato da doença ser desprovida de tratamento medicamentoso eficaz. Esta premissa, entretanto, abre portas para a utilização inadequada e sem critérios das células tronco e por pessoas que sabem NADA sobre mecanismos neurodegenerativos e imunonomodulatórios no sistema nervoso central, como aliás aconteceu recentemente em algumas partes do mundo e mesmo no Brasil. Não podemos deixar os pacientes serem usados como simples cobaias de estudos.
Esta é a razão pela qual Instituições sérias avaliam com muito cuidado todas as possibilidades, principalmente os efeitos colaterais, inerentes a todas elas.
Todas as ações têm uma razão de ser, e o momento certo é o divisor de águas.
A HC FMUSP acompanha um número grande de pacientes. O nosso carinho e agradecimento a eles é grande, principalmente pelo incentivo e ajuda que têm dado aos nossos projetos desde 2010. Assim, é nossa responsabilidade o estudo criterioso de todas as possibilidades e oferecer o que há de melhor no momento para os pacientes ELA nos seus diversos estágios de evolução da doença.
Estamos confiantes que as melhores ações farão os melhores momentos chegarem mais rapidamente.
É isto que tenho a dizer no dia mundial da ELA.
Fonte: Postado por cg junior no blog Células-tronco já!!! em 21 de junho de 2014 13:26
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